Hoje é até difícil de acreditar, mas, no começo dos anos 1960, aquele cabelinho que descia poucos centímetros no pescoço dos Beatles já bastava para que os mais velhos e/ou ranzinzas chamassem Paul de "mulherzinha". Ou coisa pior.
Amanhã, a banda alemã de rock de arena Tokio Hotel se apresenta em São Paulo e as atenções se voltam para o vocalista Bill Kaulitz. Gente desavisada que assiste aos clipes pode jurar que está vendo uma cantora.
Desde que engatinhava, o rock foi um prato cheio para discussões, burras ou pertinentes, sobre o papel dos gêneros na performance de suas estrelas. Até o requebrado selvagem de Elvis Presley fez o "rei" ser chamado de "afeminado" pela massa caipira americana.
Quem reclamava de Elvis e dos Beatles pode ter infartado no início dos anos 1970, quando David Bowie lançou a saga do alienígena Ziggy Stardust. Seu visual passou a ser copiado indistintamente por meninos e meninas em toda a Inglaterra.
Ziggy, a criatura, e Bowie, o criador, foram carimbados como "andróginos" -no dicionário, androginia refere-se à reunião de características femininas e masculinas em um único ser.
Do outro lado do Atlântico, surgiram Lou Reed e Alice Cooper. Embora o primeiro usasse cinta-liga e o segundo adotasse nome de mulher e maquiagem, eram homens que forçavam a caricatura para detonar a rigidez comportamental da época.
Depois, roqueiros tentaram explicitamente parecer garotas. A lista vai de Boy George a Brian Molko, do Placebo, aquele que Bowie chama, carinhosamente, de "a filha que eu nunca tive".
O cantor do Tokio Hotel também paga tributo. "Sim, David Bowie é uma inspiração, mas não de forma consciente. Eu já ia para a escola vestido desse jeito. Comecei a me maquiar aos 12 anos. Aos dez, já pintava o meu cabelo. Nunca tive a intenção de ser como outra pessoa e nunca quis ser andrógino", diz Kaulitz. Quem o vê no palco finge que acredita.
Fonte: Folha.com
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